Os pensamentos de um ser dito normal
Daniel Lucena junto com a banda Expresso Rural conquistou o coração de inúmeros fãs durante as décadas de 80 e 90, teve sua vida retratada no documentário “Certos Amigos” metragem dirigido por Jhonatan Matos e Luiz Maffei. O título faz alusão a um dos maiores sucessos do artista catarinense nascido em Lages.
A música que decidimos analisar, chama-se “Sol de Sonrisal”, gravada em 1983 pela banda Expresso Rural, no disco “Nas manhãs do Sul do Mundo”, e ao longo dos anos foi regravada por uma série de artistas. Recentemente, nos anos 2000, a banda de reggae também catarinense Nós N’aldeia, que fez a música ganhar espaço novamente nas rádios do sul do país.
O tema desta canção é a globalização, o autor faz comparações entre as cidades com todo o seu desenvolvimento econômico, e o mundo rural e suas peculiaridades
Lá na cidade a cor da moda agora é cinza
Coração cinza, terno cinza, amor cinza
Aqui no mato a cor da moda é arco-íris
Green, Blue, Laranja, cor de coral natural.
O autor começa fazendo comparação entre a cidade e o campo, e relata as suas diferenças a partir de um ponto perceptível ao olho humano, mas que muitas vezes não é associado, ou refletido como algo que demonstre as peculiaridades de cada lugar: as cores encontradas na cidade e no campo.
O mesmo irá retratar a cidade a partir de seus prédios, asfalto e objetos que tragam esta noção de “desenvolvimento”. Então ele diz que a cidade é cinza. Esta cor nos passa sentimento de neutralidade, falta de emoção. Ao contrário das cores encontradas no campo, que trazem a ideia de movimento, alegria, harmonia.
Até a fumaça consumir sua cabeça
Tem muita ideia sugerindo um visual
Mas não pense que esse sonho é verdadeiro
Esse seu mundo iluminado por um sol de Sonrisal.
Em uma metáfora, o autor diz que o homem urbano vive a partir de remédios analgésicos, como o Sonrisal®, que auxiliam na cura de dores de cabeça que são reflexos da poluição da região super habitada onde vivem. Remédios estes que substituem o brilho do sol e dão a ele condições para sobreviver e olhar para o horizonte de uma maneira diferente. O homem urbano sofre com a carência de natureza, e a substitui com produtos industrializados, como o Sonrisal®, que tem a intenção de tornar a vida do ser humano menos dolorosa.
Falta de verde vai fazer chover pra cima
Nuvens de aço soltam pingos de metal
No amor de um operário esquecido
Sob as bases de um parque industrial.
Outros dois problemas de cidades desenvolvidas: a escassez de natureza, o que provoca poluição no ar, e que resulta em alguns casos, em chuva ácida. Outro problema é um dos maiores paradigmas do capitalismo, que pode ser entendido como a mecanização do ser humano, que torna-se somente mão de obra, por isso fica esquecido dentro de grandes industrias, e passa a tornar-se parte do mecanismo de lucratividade do sistema.
Lá na cidade já tem rio pedindo água
Pulando cedo do seu leito pra fugir
Na esperança de não entrar pelo cano
Chegar ao mar antes de se poluir.
Outro ponto ruim da globalização é a falta de água potável, já que cresce a cada ano o índice de rios que deixam de produzir quantidade suficiente de água, ou então são poluídos e ficam impróprios para beber.
Em edifícios que correm batendo palmas
Ofuscados pelas luzes de neon
Nas avenidas que se vão em paralelas
Nunca se encontram pra poderem conversar.
Também temos aqui um retrato dos grandes edifícios, que devido à sua assimetria e semelhança, na imaginação do autor poderiam bater palmas. A grande quantidade de luzes noturnas, e grandes avenidas também entram nesta estrofe, para transmitir a imagem de uma cidade de grande porte.
Sinceramente não liguem para o que eu digo
São só palavras de um ser dito normal
Que passa o tempo passando o tempo com a vida
Mas que acredita na existência desse sol de Sonrisal
Então temos o autor se desculpando sobre sua opinião, dizendo que a canção é somente palavras de uma pessoa comum, que talvez tenha as colocado aqui em uma forma de desabafo, ou reflexão. Mas para o mesmo, a existência do sol de Sonrisal®, aquele sol que serve de analgésico, e norteia a vida do homem urbano, o qual tem a esperança de que através deste sol poderá ter seus problemas solucionados, é real.
A música foi escrita em 1983, porém pode ser encaixada nos dias atuais, e nos subsequentes. Infelizmente todos temos conhecimento dos problemas causados pela globalização, crescimento industrial e a poluição gerada. O apelo da música é para fazermos uma reflexão sobre tudo isso, e percebermos o rumo que estamos tomando. Fica nas mãos de cada um de nós tentar mudar esta realidade.
João Dalbosco. 24 anos, estudante de história, músico e amante da
- Autor: João Dalbosco
- Imagens: Internet