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Trinta anos de estrada, a obra inteira de uma vida

Data da Noticia 05/10/2016

Há exatos 30 anos a banda Nenhum de Nós fazia seu primeiro show, no Bar Bangalô, dia 5 de outubro de 1986. Por isso volto a falar desta banda, aproveitando a data comemorativa. A primeira análise feita por mim neste site vários meses atrás, foi sobre “Camila Camila”, a primeira canção da banda a ter um relativo sucesso.

A música a ser comentada hoje, é a segunda faixa do álbum “Extraño”, lançado em 1990, e chama-se “Sobre o Tempo”, composição de Thedy Correa, e ainda conta com participação de Carlos Stein, Sady Homrich e Veco Marques na composição dos arranjos.

A letra traz reflexões sobre a relatividade de nossas escolhas, e monstra que as escolhas boas de hoje, podem não ser boas amanhã. Ainda mais em uma sociedade onde a vida é regida pelo capital.

Encontramos muitas vezes a palavra homem nesta composição, porém o sentido empregado nela é para descrever a humanidade, e não somente um sexo da espécie humana.

 

Os homens trocam as famílias  

As filhas, filhas de suas filhas  

E tudo aquilo que não podem entender

Quando forma-se um matrimonio, a intenção é que o relacionamento dure por um longo período, porém por muitas a convivência mostra o oposto, o que acarreta muitas vezes em separações. Então os membros de uma família constituída passam a não comungar da relação familiar que antes existiam, e então, ao encontrar outra pessoa para se relacionar, se constitui uma nova família, com novos filhos, novos netos, os filhos de seus filhos. Isso tudo para demonstrar que falar do tempo, é o mesmo que falar da vida.

Os homens criam os seus filhos  

Verdadeiros ou adotivos  

Criam coisas que não deviam conceber

Logo após casar-se, existe um consenso na sociedade (que se fazia muito mais presente nos anos 90, época da escrita da música) que após o casamento, é necessário ter filhos, por uma série de questões sociais, sejam eles filhos biológicos ou não. E assim, imaturos, criam situações das quais não conseguem administrar, como formar uma nova família por exemplo. Portanto, o autor pensa que não deveriam tê-las idealizado

O tempo passa e nem tudo fica  

A obra inteira de uma vida  

O que se move e  

O que nunca vai se mover

 

O tempo passa e nem tudo fica  

A obra inteira de uma vida  

O que se move e  

O que nunca vai se mover  

Se mover

O Refrão demonstra como as coisas e situações criadas podem ser mutáveis no decorrer da nossa vida. Pois conforme vivemos, algumas frações da nossa história vão ficando para trás, e muitas vezes, essas frações incluem uma vida toda.

É importante compreender que se o autor diz que você pode deixar uma vida toda para trás, consequentemente ele acredita em recomeços, acredita que se pode abandonar “a obra inteira de uma vida” para recomeçar novamente.

O passado está escrito  

Nas colunas de um edifício  

Ou na geleira  

Onde um mamute foi morrer

Thedy fala sobre os modos de se perceber o passado, seja ele nas datas que se costumam colocar em edifícios, simbolizando o último dia de construção do mesmo, ou então nas descobertas de fósseis ou artefatos pré-históricos.

O tempo engana aqueles que pensam  

Que sabem demais que juram que pensam.  

Existem também aqueles que juram  

Sem saber

A intenção desta estrofe é dizer que a sabedoria é adquirida com o tempo, e que a mesma é uma construção. Ter a certeza da sabedoria é uma enganação, e muitas vezes uma prisão que não te liberta para novos conhecimentos. A última frase é muito intrigante, tem uma ambiguidade estarrecedora. Talvez a mesma queira dizer que existem pessoas que juram ser sábias com o objetivo de enganar o próximo, ou seja, juram ser sábias mesmo não sendo, ou ainda, o significado seja de que algumas pessoas, demonstram sabedoria mesmo sem a intenção, e sem perceber, tornam-se iguais a quem se declara sábio. Ou ainda, as duas alternativas.

O tempo passa e nem tudo fica  

A obra inteira de uma vida  

O que se move e  

O que nunca vai se mover.

A primeira versão, que foi retirada do primeiro caderno de composições do próprio Thedy Corrêa, traz mais uma estrofe, conforme a

imagem nos mostra:

 

Quem tem poder, tem medo

 

Quem tem virtudes,

 

Também tem seus segredos.

Fica aqui então, a homenagem aos 30 anos de uma das bandas mais importantes no cenário da música gaúcha dos últimos tempos.

 

João Dalbosco. 23 anos, estudante de história, músico e amante da literatura.



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  • Autor: João Dalbosco
  • Imagens: Internet

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