Zé Ramalho e a polêmica letra de Kryptônia
Zé Ramalho é um artista que carrega consigo muito da cultura nordestina. Nascido em Brejo da Cruz/PB, sofreu com a morte de seu pai, que se afogou ainda quando Zé era criança, e logo após foi criado por seu avô, cuja relação foi retratada em “Avohai” a primeira música de sucesso do artista.
Suas letras são sempre enigmáticas e cheias de significado, o que faz delas, letras muito difíceis de se compreender. “Kryptônia” por exemplo, traz elementos dos quadrinhos do Super Homem, para a letra. Super Homem teria vindo de um planeta chamado Krypton, que explodiu e fez com que ele viesse para a Terra em um asteroide. Pedaços deste planeta também vieram parar na Terra, e são conhecidos como Kryptonita. Então, poeticamente falando, Zé Ramalho ao ler quadrinhos do Super Homem teria tido a ideia de compor Kryptonia.
Outro fato importante, é que a música é escrita tendo como o eu lírico Satanás, ou seja, a música tem por intenção demonstrar ao ouvinte que o próprio Satanás está falando com ele, o que fica claro na análise. Sabemos que Zé Ramalho é adepto à teoria da Nova Ordem Mundial, o que deixa ainda mais claro a letra.
Temos por costume ter Satanás ou Diabo como abominações e símbolo do mal, e é sobre isso que a música começa falando:
Não admito que me fale assim.
Eu sou o seu décimo-sexto pai,
sou primogênito do teu avô, primeiro curandeiro,
alcoviteiro das mulheres que corriam sob teu nariz.
A música diz que não podemos falar mal de Satanás e diz quais são os motivos. Ao dizer que é o nosso décimo-sexto pai e, além disso, o primogênito do nosso avô, nos dá a entender que é um parente distante. Nos dá a entender também que é ele a origem de todos nós, visto que não define a quem fala, podendo ser o interlocutor qualquer uma das pessoas que o criticam.
Ser o primeiro curandeiro está aí para enfatizar a fato do eu lírico ser o Diabo, visto que é um ato quase sempre associado ao ato de magia negra. Seria ele o primeiro a praticar tais atos. É ele também aquele que intermedeia a discórdia, o alcoviteiro.
A pergunta que se faz neste momento é por que Satanás é a origem de tudo e todos.
Me deves respeito, pelo menos dinheiro.
Ele é o cometa fulgurante que espatifou.
Um asteroide pequeno que todos chamam de Terra
Ao completar sua fala anterior, de que merece respeito, o interlocutor diz o porquê de merecê-lo, pois ele seria o cometa que espatifou e deu origem à Terra, segundo o Big Bang.
Vemos nessa parte da música uma ligação à história do Superman. A kryptonita fazia mal aos habitantes de Krypton. Satanás também seria algo ruim para os céus, onde estava, se levado em consideração que era um anjo. Ambos vieram à Terra por meio de um asteroide.
Mas desde quando o Satanás veio à Terra por meio de um asteroide?
Seguindo na linha de pensamento de que o Diabo era um anjo, por ser o pai da mentira e tentar igualar-se ou sobressair-se a Deus, caiu dos céus, que ficaria fora da Terra. Sendo assim, sua massa adquire velocidade, transforma-se em um asteroide que dá origem ao nosso planeta.
Prestem atenção que a música não só designa o Diabo como o agente formador da Terra, mas também como ela própria.
De Kryptônia desce teu olhar
e quatro elos prendem tua mão.
Cala-te, boca... companheiro, vá embora, que má-criação!
De outro jeito não se dissimularia a suma criação
E foi o silêncio que habitou-se no meio
Ele é o cometa fulgurante que espatifou
um asteroide pequeno que todos chamam de Terra
Se antes o interlocutor era Satanas, agora a voz é de Deus. Para Zé Ramalho, Kryptônia seria o céu. É de lá viria o Diabo. Deus o descreve, assim como descreve o momento em que foi expulso de seu reino e o momento em que ele espatifou, formando a Terra. Interessante como, nesse contexto, "má-criação" toma o sentido de, realmente, uma criação ruim.
Está é a teoria de Zé Ramalho. Que podemos ver nos significados ocultos dentro do clipe de “Sinais” e tantas outras letras do mesmo. Ele tenta unir criacionismo e evolucionismo, e dentro de suas letras, consegue transmitir de uma maneira muito interessante.
João Dalbosco. 24 anos, estudante de história, músico e amante da literatura.
- Autor: João Dalbosco
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