Música d’O Rappa tenta demonstrar como a rotina afeta a vida do povo brasileiro
Hoje trazemos a análise da música “O que Sobrou do Céu”, da banda O Rappa. A obra retrata a falta de luz em um dia da semana de um brasileiro comum, que depende da energia elétrica pra realizar suas tarefas diárias. A compreensão da letra é simples, porém achamos interessante retratá-la.
Faltou luz mas era dia, o sol invadiu a sala
Fez da TV um espelho refletindo o que a gente esquecia
A música inicia situando o ouvinte no tempo e espaço dela. Um dia sem luz, em que brasileiro não pode assistir televisão, mas mesmo assim continua olhando para a mesma, e se depara com a luz do sol refletindo coisas que esta pessoa não percebia ao seu redor.
Faltou luz mas era dia
Faltou luz mas era dia, dia, dia
O som das crianças brincando nas ruas
Como se fosse um quintal
A cerveja gelada na esquina
Como se espantasse o mal
Neste momento a pessoa retratada na música começa a ver e ouvir o que não percebia quando dedicava todo seu tempo ao ócio. Coisas retratadas como as crianças brincando nas ruas e a cerveja no bar da esquina.
O autor trouxe a mensagem que, as crianças de certa forma também estavam acomodadas com o perigo da rua, já que faziam dela o seu quintal, e compreende-se o quintal um local de segurança. Outro ponto é que as pessoas do bar, faziam do álcool a solução para todos os males, não procurando então, solucionar seus problemas da forma correta, “como se espantasse o mal”.
Um chá pra curar esta azia
Um bom chá pra curar esta azia
Todas as ciências de baixa tecnologia
Todas as cores escondidas nas nuvens da rotina
O autor retrata a rotina como algo que deixa o dia nublado, e então cega a visão das coisas que o cercam. E após perceber tudo o que esta pessoa perdeu, enquanto distraia-se com a rotina, ela sente um mal-estar e recorre a ao chá, que é um tipo de ciência, pois possui propriedades curativas, porém o chá é um tipo de ciência acessível a todo mundo, pois não precisa de tecnologia para ser formulado, e por isto, é negligenciado por parte dos cidadãos que preferem acreditar no poder curativo dos produtos industrializados, conhecidos como remédios, e deixam o chá de lado, muitas vezes se referindo ao mesmo como “coisas de velhos”.
Pra gente ver
Por entre prédios e nós
Pra gente ver
O que sobrou do céu
Está no subconsciente do povo brasileiro, a ideia de que todas as coisas boas vem do céu, e a pessoa da música acaba percebendo isto quando acabou a energia elétrica da sua casa, e ela então imagina que no meio da rotina, no meio da conformidade existem coisas a serem notadas, coisas que não percebemos no dia a dia. Estas coisas estão entre os prédios e nós, pois só olhamos para o desenvolvimento retratado por prédios e construções, mas esquecemos de olhar ao nosso redor, para ver o que está acontecendo com o próximo, com nossa família, com os animais que estão se extinguindo ante o desenvolvimento humano.
A música mostra que todos estamos focados na rotina, seja vendo televisão, conversando pelo celular, ou disfarçando problemas com o entorpecimento proporcionado pelo álcool, de certa forma, ninguém escapa da rotina. Porém, em algum momento, uma pessoa pode parar com sua rotina, para olhar ao redor e perceber, que coisas boas sempre acontecem ao seu redor, porém muitas vezes passam despercebidas.
João Dalbosco. 24 anos, estudante de história, músico e amante da literatura.
- Autor: João Dalbosco
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