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Cooperação em alta

Data da Noticia 15/03/2021
Acordos entre cooperativas complementam atividades, ampliam perspectivas comerciais e viabilizam empreendimentos.

A pandemia do novo coronavírus provocou a ampliação das ações de intercooperação, sexto dos princípios do cooperativismo, que tem como pilares a colaboração entre pessoas e estruturas de todos os níveis. Num ano de  atividades econômicas reduzidas e isolamento social, no entanto, quem mais recorreu às associações foram as pequenas cooperativas de produção, transporte e consumo, motivadas pela necessidade de obter escala e chegar a mais consumidores para manter a renda de seus associados. Ao mesmo tempo, grandes organizações, com milhares de cooperados e faturamento bilionário, também anunciaram novas operações conjuntas, que já estão em andamento ou têm início previsto para breve.

A intercooperação consiste na colaboração mútua entre associados ou cooperativas locais, regionais, nacionais ou internacionais, do mesmo ramo ou não, com a finalidade de reduzir suas carências. “As cooperativas têm de cooperar entre si, não importa tamanho e ramo, pode ser de pequena para pequena, de grande para pequena, de grande para grande”, sustenta o presidente do Sistema Ocergs-Sescoop/RS, Vergilio Perius. Para o presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS), Paulo Pires, esse “é o DNA do cooperativismo”.

É o intercooperativismo que faz, por exemplo, com que dezenas de cooperativas, muitas delas com foco nos grãos e sem indústria processadora, entreguem o leite de seus associados para uma central processar. Ou que outras dezenas se unam em rede para fazer compras em conjunto e reduzir custos. Ou que pequenas cooperativas de produção de frutas e hortigranjeiros firmem convênios com terceiras, de transportes e de consumo, para expandir mercados para além de suas regiões. Ou, ainda, que quatro unidades de banco cooperativo se juntem para financiar uma usina de uma cooperativa de eletrificação.

Entre as vantagens mais mencionadas por essas cooperativas está o ganho em escala. “Há benefícios difíceis de (uma organização) alcançar sozinha, como o acesso a novos mercados e a processos de inovação e tecnologias”, explica o diretor executivo da Federação das Cooperativas Vinícolas do Rio Grande do Sul (Fecovinho), Hélio Marchioro. Mas, para tudo isso dar certo, o coordenador do Ramo Agropecuário na Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), João Prieto, lembra que "não tem que haver concorrência entre cooperativas”.

Com a pandemia, Pires acredita que ficou ainda mais claro que ter práticas intercooperativas como essas “é uma exigência do mercado atual para se manter”. A Rede de Cooperativas da Agricultura Familiar e da Economia Solidária (Redecoop), que possui 44 cooperativas associadas em sistema intercooperativo, sentiu isso em março do ano passado, quando, com a crise sanitária, sua receita começou a despencar, já que as escolas, que eram o seu principal mercado, estavam fechadas. “Graças à rede, conseguimos nos organizar e começar a vender cestas básicas para mercados privados, o que acabou reduzindo o prejuízo final”, destaca, hoje, o presidente Charles Lima.

A Redecoop vendeu cestas populares com produtos da agricultura familiar ao Sindicato Intermunicipal dos Professores de Instituições Federais de Ensino Superior do Rio Grande do Sul (Adufrgs Sindical), ao Sport Club Internacional e ao Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea), entre outras instituições, que doaram para pessoas carentes. No total, foram vendidas 7 mil cestas, equivalentes a 120 toneladas de alimentos, por R$ 546 mil.

A Cooperativa Mista de Agricultores Familiares de Itati, Terra de Areia e Três Forquilhas (Coomafitt), que possui 273 associados, também passou por um sufoco semelhante. Para escoar a produção dos seus associados, resolveu criar um site (loja.coomafitt.com.br), com a ajuda da cooperativa GiraSol, que já tinha feito o seu. A plataforma possibilitou que se alcançasse consumidores da região de Porto Alegre. O faturamento caiu 6,7% de 2019 para 2020 (de R$ 4,5 milhões para R$ 4,2 milhões), mas o novo mercado evitou que se instalasse uma situação de crise. Antes da pandemia, as compras institucionais (de prefeituras, programas sociais e quartéis) absorviam 90% da oferta da cooperativa. Durante o ano passado, as compras individuais, feitas diretamente pelos consumidores, ampliaram sua fatia para 35%.

Em função da pandemia, a Coomafitt redobrou os cuidados de higiene. Atualmente, é obrigatório o uso de álcool gel e máscara entre seus funcionários. | Foto: Allan Fernandes / Arquivos Coomafitt

Para Prieto, esse e outros exemplos indicam também a tendência de cooperativas de buscarem iniciativas de intercooperação no âmbito digital para resolver problemas competitivos. Em abril, a FecoAgro deve entrar nessa lista, já que planeja lançar, por meio de suas 29 cooperativas associadas, o Smartcoop, uma plataforma inédita no ramo. Com o site, será possível fazer um gerenciamento on-line da propriedade, comercializar produtos entre produtores e cooperativas e comprar insumos coletivamente. “A principal vantagem, no entanto, será a de que o produtor é o dono da plataforma, diferentemente da Uber, por exemplo”, compara o diretor superintendente de uma das associadas, a CCGL, Guillermo Dawson.

Horizontes Triplicados

Agricultores familiares alcançam mercados distantes de seus municípios graças a acordos da cooperativa local com outras, de transporte, produção e consumo

Depósito da Unicentral, que organiza a logística e comercializa hortifrutigranjeiros das suas nove cooperativas singulares. | Foto: Divulgação Unicentral

Se não tivéssemos nos unidos, não teríamos sobrevivido.” A frase, do coordenador de Logística da Cooperativa Mista de Agricultores Familiares de Itati, Terra de Areia e Três Forquilhas (Coomafitt), Adiecson Gross Bobsin, resume o cenário e as soluções encontradas pela agricultura familiar cooperativada nos últimos tempos. A união referida é a da Coomafitt com a Rede de Cooperativas da Agricultura Familiar e da Economia Solidária (Redecoop), a Central de Cooperativas da Agricultura Familiar (Unicentral, de Santa Maria) e a Cooperativa GiraSol, de Porto Alegre, que atuam em diferentes modelos de intercooperação há pelo menos quatro anos.

A iniciativa partiu da Coomafitt, que foi fundada em 2006 e em 2010 passou a vender hortifrutigranjeiros para mercados institucionais por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que determina que a compra dos alimentos dos estados e municípios seja de no mínimo 30% da agricultura familiar. A partir daquele momento, seus 273 associados viram suas vendas decolarem.

O produtor de bananas Valtair Ribeiro, de Terra de Areia, se associou em 2011 à Coomafitt em função disso. “O preço pago era mais justo e fixo. Virar sócio era um jeito de não ficar na mão do mercado, que tem oscilações muito grandes do preço pago no decorrer do ano”, justifica.

Valtair e sua esposa, rosane, na lida. | Foto: Divulgação Coomafitt

Foi durante o transporte desses alimentos que a intercooperação surgiu. “Começamos a perceber que os nossos caminhões cruzavam com o de várias outras cooperativas, que acabavam entregando quase sempre nos mesmos locais”, lembra Bobsin. Após uma decisão conjunta entre os 273 associados e 16 funcionários, a Coomafitt partiu para um trabalho em conjunto com outras cooperativas para solucionar a ociosidade dos veículos, que, na maioria das vezes, percorriam parte de seus trajetos com a carreta quase vazia. Assim, surgiram três tipos de intercooperação de logística e comercialização com a participação da Coomafitt.

A Coomafitt possui três caminhões próprios, mas também contrata veículos terceirizados. | Foto: Ubirajara Machado / Arquvio Coomafitt

O primeiro deles é a Redecoop, que surgiu em 2017 para suprir a necessidade das cooperativas que atendem mercados institucionais de ter uma logística mais organizada. Atualmente, os trabalhos da rede, que conta com 44 cooperativas associadas (singulares e centrais), localizadas em 30 municípios, são organizar a logística para atender às chamadas públicas das prefeituras e promover eventos chamados “Mesas de Negociações” para que seus associados fechem parcerias.

Para facilitar ainda mais as vendas, em janeiro deste ano, a rede lançou o Coopfrete, um aplicativo que localiza os caminhões e suas respectivas cargas de forma gratuita para as cooperativas associadas. A iniciativa foi viabilizada pelo Instituto Federal de Osório, por meio de um projeto de extensão, sem custos. “Agora estamos com controle da rastreabilidade dos alimentos, já que alguns são perecíveis, das entregas, da logística reversa e dos valores dos produtos e do frete”, sintetiza o presidente da Redecoop, Charles Lima.

A Redecoop também possui cinco centros logísticos para carga e descarga, que podem ser utilizados por todos os seus associados, localizados em Pelotas, Santa Maria, Erechim, Santa Rosa e Porto Alegre, este sob a coordenação da Coomafitt. Os caminhões e motoristas utilizados são das cooperativas ou de empresas terceirizadas. O preço cobrado para cada cooperativa pelo transporte é o do frete, que varia de 25 a 60 centavos o quilo, que vão para a coordenação do centro logístico, responsável pela distribuição dos recursos. O valor dos alimentos vendidos é depositado pelo comprador mediante comprovante de entrega. Já embutida no preço também está a porcentagem que cada cooperativa cobra para se manter. No caso da Coomafitt, é de 20% a 30% do valor original que será pago ao seu associado. A Redecoop também cobra uma mensalidade de R$ 50 de seus associados e, se a comercialização for mediada por ela, de 1% a 2% em cima do valor dos produtos.

Coomafitt coordena Centro Logístico da Redecoop em Porto Alegre. | Foto: Ubirajara Machado / Arquvios Coomafitt

Centrais

Outro modelo de intercooperação que conta com a participação da Coomafitt é a Unicentral. Fundada em 2014 em razão da mesma demanda da política pública, por iniciativa da Cooperativa de Produção e Desenvolvimento Rural dos Agricultores Familiares de Santa Maria (Coopercedro), a central organiza a logística e comercializa hortifrutigranjeiros das suas nove cooperativas singulares associadas. Para que esse trabalho ocorra, a central aluga da Coopercedro, que é uma das suas associadas, um escritório para seus três funcionários, além de pagar pelo transporte, que também é feito por essa cooperativa. A armazenagem é no centro logístico da Redecoop de Santa Maria, que também é da Coopercedro.

A distribuição fica a cargo das cooperativas. Na foto, a Unicentral levou alimentos comprados a uma escola. | Foto: Divulgação Unicentral

No entanto, a Unicentral não se restringe aos seus sócios e também faz parcerias sazonais com outras cooperativas, centrais ou singulares, como a Coomafitt. “O caminhão da Coomafitt leva banana para o nosso depósito, nós organizamos a distribuição e ele transporta, de volta para o Litoral Norte, nossas maçãs para serem vendidas lá”, exemplifica o presidente da Unicentral, Alcione Piasentin Claro. O resultado desse trabalho gerou um faturamento de R$ 1,9 milhão em 2020, com a venda de 452 toneladas de alimentos.

A intercooperação entre cooperativas singulares aproxima a Coomafitt da Cooperativa GiraSol, de Porto Alegre, que também é associada à Redecoop. GiraSol compra produtos da Coomafitt para revendê-los em seu armazém na Capital ou em sua loja virtual por um preço 50% a 60% superior ao original. “Nossos 45 associados fabricam majoritariamente produtos agroindustriais, enquanto os da Coomafitt vendem aqueles in natura; por isso, não há concorrência nas gôndolas”, esclarece a coordenadora geral da GiraSol, Tanara Lucas. No ano passado, 125 toneladas de alimentos orgânicos foram vendidas.

Neste ano, as duas cooperativas também criaram o Projeto Verão Saudável, que tem como objetivo vender seus alimentos por meio do site da Coomafitt (loja.coomafitt.com.br) em 11 municípios do Litoral Norte. A logística fica por conta da Coomafitt, que cobra da GiraSol uma parcela do transporte à GiraSol.

Durante a pandemia, movimentação do armazém da GiraSol ficou mais fraca. | Foto: Divulgação Cooperativa GiraSol

 

União agrega valor à uva

Cooperativado desde 1953, Arside Piton (com a esposa, Cenira) viu na produção de suco uma garantia para o escoamento da uva. | Foto: Eduardo Soares

Algumas cooperativas vitivinícolas gaúchas também participam de projetos de intercooperação para suprir gargalos da cadeia produtiva. O incentivo vem, principalmente, da Federação das Cooperativas Vinícolas do Rio Grande do Sul (Fecovinho), que atua desde 1952 como uma cooperativa de segundo grau.

Um  caso de intercooperação na área é o da Central das Cooperativas (Cenecoop), que foi criada pelas cooperativas Garibaldi, Nova Aliança, São João e Pradense em 2007. A necessidade da união surgiu de um problema enfrentado por todas elas: o excedente da produção de uvas híbridas americanas, que era vendido a granel, o que não era vantajoso. Foi assim que resolveram juntar recursos para construir uma planta única em Farroupilha para sediar a Cenecoop, que passaria a fabricar suco de uva concentrado com essas sobras a partir de 2019.

Hoje, a central recebe a uva dos associados das cooperativas singulares, que são suas sócias, processa e comercializa o suco para indústria de alimentos e bebidas. Uma parcela dos valores fica com a central e a outra é repassada aos cooperados. “Com a previsão de uma grande safra neste ano, o nosso objetivo vai ser alcançado, que é o de reduzir o impacto desse excedente”, projeta o vice-presidente da Cenecoop, Oscar Ló. Em 2019, foram processados 7 milhões de litros de mosto, o que gerou um faturamento de cerca de R$ 20 milhões. Neste ano, a expectativa é aumentar para 10 milhões de litros.

A sede da Cenecoop se localiza em Farroupilha. | Foto: Divulgação Cenecoop

Com essa mesma lógica, a cooperativa Nova Aliança, que tem sede em Flores da Cunha e é associada à Cenecoop, também industrializa espumantes, vinhos e sucos em suas quatro unidades próprias e viu seu faturamento saltar de R$ 60 milhões em 2010 para R$ 200 milhões em 2020, enquanto a produção, de cerca de 39 milhões de quilos por ano, não variou significativamente. “Conseguimos agregar valor ao produto final com o processamento”, justifica o presidente da Nova Aliança, Alceu Dalle Molle. Neste ano, a previsão é bater a marca de 50 milhões de quilos.

A sede da Nova Aliança se localiza em Flores da Cunha. No entanto, a cooperativa também conta com mais três unidades, também localizadas na Serra Gaúcha. | Foto: Divulgação Nova Aliança

Ao lado da esposa, Cenira, o produtor de uva cooperado mais antigo da Nova Aliança, Arside Piton, de 84 anos, observa bem essa mudança. “O escoamento da nossa produção agora está mais garantido”, relata o morador de Nossa Senhora de Caravaggio da 6ª Légua, em Caxias do Sul, que, desde 1953, é sócio da cooperativa, que antes se chamava Aliança e se unificou, em 2010, com a São Victor, São Pedro, Santo Antônio e Linha Jacinto, todas do mesmo ramo.

Mas não foi só esse o benefício que essa fusão de cooperativas trouxe. Hoje, seus 700 associados conseguem comprar insumos com preços 8% a 10% menores, graças aos técnicos das cooperativas Nova Aliança, São João, Garibaldi, Pradense e Cairu, que fazem um levantamento anual com cada cooperado, verificando suas necessidades, e compram, em conjunto, diretamente dos fornecedores. “Assim, reduzimos os custos”, resume o agrônomo da Nova Aliança, Leonardo Reffatti. Entre os produtos adquiridos há fertilizantes, fungicidas, herbicidas e inseticidas, que são distribuídos pelas próprias cooperativas, que  colocam o custo do serviço no insumo a ser pago pelo cooperado. A iniciativa ganhou o Prêmio Ocergs de Cooperativismo de 2018 na categoria Intercooperação.

Associação para industrialização do leite é exemplo clássico no RS

Associadas enviam 1,5 milhão de litros por dia para unidade de processamento, em Cruz Alta. | Fotos: CCGL Divulgação

Um dos exemplos clássicos de intercooperação ocorre no setor leiteiro do Rio Grande do Sul. A Cooperativa Central Gaúcha (CCGL), com sede em Cruz Alta, surgiu em 1976 a partir da necessidade de 18 cooperativas de industrializar seu leite para aumentar a receita. “Não havia como cada cooperativa investir no processamento sozinha; era mais racional fazer um investimento coletivo”, argumenta Gelson Melo de Lima, superintendente de Produção Agropecuária da Cotrijal, de Não-Me-Toque, que é uma das associadas.

Dos 1.280 funcionários da CCGL, 600 trabalham na unidade de laticínios. Eles são responsáveis por recepcionar os caminhões da organização e de empresas terceirizadas que coletam 1,5 milhão de litros por dia nas propriedades e pelo processamento do leite na unidade. Do volume que chega à unidade industrial, em Cruz Alta, 90% é transformado em leite em pó, 9% em creme de leite e 1% em achocolatados e leite UHT, que são vendidos com a marca CCGL.

Cerca de 87% desse leite em pó é comercializado para grandes redes de supermercado no Norte e Nordeste, via cabotagem ou caminhão de terceirizados. “Transportar via navegação é viável em mercados assim, já que a maior densidade populacional está no litoral”, esclarece o diretor superintendente da CCGL, Guillermo Dawson.

A CCGL compra o leite de 21 cooperativas, localizadas majoritariamente na metade Norte do Estado, pelo valor de mercado,  e vende os produtos, retendo uma parcela do lucro e distribuindo o restante às associadas e seus produtores. A receita total da CCGL em 2020 foi de R$ 1,4 bilhões, com 81% dela vinda da área de laticínios.

Associado à Cotrijal há nove anos, Ezequiel Alan Weber entende que a participação em empreendimento cooperativo trouxe inúmeros benefícios à sua propriedade, localizada em Coqueiros do Sul, onde produz soja, milho, trigo e leite. “Além do retorno financeiro, nós recebemos uma série de descontos em produtos utilizados para a produção, adquiridos junto à Cotrijal”, justifica. Para ele, “diferentemente de outras empresas do setor, uma cooperativa se preocupa com o real desenvolvimento e crescimento dos seus cooperados". Ao todo, a Cotrijal possui 7 mil cooperados das regiões do Alto Jacuí, Planalto Médio Gaúcho e parte da região Norte do Estado, que produzem leite e grãos, e 1.900 funcionários.

Para Ezequiel, “diferentemente de outras empresas do setor, uma cooperativa se preocupa com o real desenvolvimento e crescimento dos seus cooperados". | Foto: Arquivo Pessoal

Financiamento compartilhado

Cooperativa de eletrificação obtém crédito de quatro unidades de banco cooperativo para construir nova Pequena Central Hidrelétrica

Salto Forqueta, uma das quatro PCHs da Certel. | Foto: Divulgação Certel

Um modelo de intercooperação agraciado com o primeiro lugar na categoria do Prêmio SomosCoop – Melhores do Ano 2020, viabilizou a Pequena Central Hidrelétrica (PCH) Vale do Leite, no Rio Forqueta, entre os municípios de Pouso Novo e Coqueiro Baixo, no Vale do Taquari. O empreendimento é da Cooperativa Regional de Desenvolvimento Teutônia (Certel) e a construção começa em maio. A usina terá potência de 6,4 megawatts (MW) e poderá gerar, em média, 2,3 mil megawatts-hora (MWh) por mês, o suficiente para atender 19 mil associados (de 73 mil) em 48 municípios gaúchos. A previsão é que a obra termine em setembro de 2022.

Tudo começou com a decisão da Certel de ampliar a sua capacidade de geração de energia elétrica própria. Hoje, as duas usinas solares e quatro hidrelétricas (Salto Forqueta, Boa Vista, Rastro de Auto e Cazuza Ferreira) produzem 29% da demanda da área de distribuição. O restante (71%) é comprado em leilões. Após estudar a viabilidade do projeto, os dirigentes da cooperativa esbarraram no empecilho dos juros de cerca de 7% cobrados pelos bancos comerciais para financiar os R$ 48 milhões necessários ao investimento, o que poderia implicar em ter de recorrer ao aumento da tarifa de energia elétrica cobrada dos associados, que é de R$ 0,48 pelo kWh, enquanto a média nacional é de R$ 0,49.

Buscando outra alternativa, a Certel procurou o Sistema de Crédito Cooperativo (Sicredi) Ouro Branco, de Teutônia, ao qual é associada há 40 anos, que topou oferecer recursos. Mas, como o valor era alto, a cooperativa de crédito teve de buscar mais três unidades para dividi-lo, a Integração RS/MG (Lajeado), a Região dos Vales (Encantado) e a Botucaraí (Soledade). “O que fizemos com a Certel foi simplificar o acesso ao crédito, que será disponibilizado conforme o andamento da construção do empreendimento”, explicou o presidente da Sicredi de Teutônia, Neori Ernani Abel. A taxa de juros não foi divulgada, mas os participantes do negócio asseguram que é menor que a dos bancos comerciais.

“Cada MWh gerado pela Certel é um a menos que o Estado importa”, destaca o presidente da Certel, Erineo José Hennemann, ao lembrar que, hoje, cerca de 60% da demanda de energia gaúcha é suprida por usinas de outros estados. Para Abel, outra vantagem é o modelo de negócio, que é feito entre as cooperativas. “Nós geramos riquezas para a própria comunidade, diferentemente de empresas, que bonificam o lucro para poucos.”

Licenciamento

Local do Rio Forqueta que receberá a barragem da Hidrelétrica Vale do Leite. | Foto: Divulgação Certel

Atualmente, a Certel aguarda que a Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luís Roessler (Fepam) emita o Licenciamento Ambiental para a construção da  PCH. Por parte da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o empreendimento já foi autorizado.

Além de trabalhar no ramo da energia elétrica, a cooperativa também vende eletrodomésticos, móveis, tecnologias e artefatos de cimento. Para isso, emprega 700 pessoas, além de terceirizar outros serviços, como a leitura do relógio de luz. “Com certeza, estamos seguindo o sonho dos 174 fundadores da Vila de Teutônia que criaram a Certel, em 1956, visando uma vida melhor”, conclui Hennemann. O faturamento do grupo foi de R$ 360 milhões em 2019.

*Sob supervisão de Elder Ogliari



Todas imagens
  • Autor: Carolina Pastl* /Correio do Povo
  • Imagens: Ubirajara Machado / Equipe 4 Cabeças / A

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