Programação Automática Programação Automática

Central de Recados

Envie-nos seu recado ou peça sua música aqui!
Seu nome deve conter apenas letras!

O gaúcho e seus conflitos no caminho das charqueadas

Data da Noticia 03/08/2016

Muitas canções tradicionais aqui do Rio Grande do Sul trazem letras muito fortes, que abordam temas do gaúcho e seu cotidiano. Esta, intitulada “Os Homens de Preto”, composta por Paulo Ruschel, um gaúcho de Passo Fundo, nascido em 1919. A obra ganhou destaque nacional em 1975, ao ser interpretada pela saudosa Elis Regina, logo mais tornou-se tema de abertura do programa Campo e Lavoura, da RBS TV.

A letra é muito simples, bem como quase todas as letras de gêneros musicais tidos como “tradicionalistas” do Rio Grande do Sul, ela retrata a história de homens vestidos de preto, que conduziam as tropas de bois para a charqueada.

Para conhecimento então, charqueada é o local de abate do gado, que posteriormente tornam-se charque. Já o charque, hoje conhecido como carne seca, é uma carne extremamente salgada, e seca ao sol, para ser consumida sem a necessidade de resfriamento. Nas primeiras 5 décadas do século XX, no Rio Grande do Sul, o acesso a luz elétrica, e consequentemente a um resfriador, era muito difícil, e por isso não havia possibilidade de resfriar a carne para consumir posteriormente. Portanto tornou-se costumeiro fazer charque para preservar a carne dos animais que eram mortos para consumo humano, já

Entendidos estes aspectos importantes sobre a canção, vamos a análise da letra propriamente dita:

Os homens de preto, os homens de preto, os homens de preto

Os homens de preto trazendo a boiada  

Vêm rindo, cantando, dando gargalhada  

Deus, Deus, Deus, Deus, Deus, você fez?

De uma maneira bem explícita, a canção relata que estes homens de preto, mesmo conduzindo a boiada para o abate estavam felizes, pois iam sorrindo, cantando e dando gargalhadas, o que significa que a felicidade era tanta, que não continham-se somente com um simples sorriso, e muitas vezes gargalhava.

A frase “Deus, Deus, Deus, Deus, Deus, você fez?” tem um significado especial dentro da música, que será compreendido no decorrer da análise.

 

Os homens de preto trazendo a boiada  

Vêm rindo, cantando, dando gargalhada  

E o bicho coitado não pensa em nada  

Só vai pela estrada direito a charqueada  

Deus, Deus, Deus, Deus, Deus, você fez

Entende-se que a letra fala que os animais não tinham conhecimento da morte eminente que lhes esperava, e caminhavam sem reclamar para a charqueada.

Os homens de preto trazendo a boiada  

Vêm rindo, cantando, dando gargalhada  

Deus, Deus, Deus, Deus, Deus, você fez

 

Os homens de preto trazendo a boiada  

Vêm rindo, cantando, dando gargalhada  

E o bicho coitado não pensa em nada  

Só vem pela estrada

 

vem, berrando, berrando, vem berrando

Ressalto aqui, que na presente interpretação, o boi sente que algo está errado e começa a berrar...

O gado coitado, nasceu, foi marcado  

Aí vai condenado na estrada berrando  

A querência deixando  

Os ‘homem marvado’ empurrando e gritando  

Toca boi, toca boi

Muito interessante perceber que o autor preocupava-se com a vida do animal. Há uma descrição da vida do gado, que nasce, é marcado com as marcas dos seus donos, e após isto é condenado à morte.

Durante este trajeto da vida bovina, ele deixa sua querência, que para o gaúcho significa deixar o seu local de origem, deixar toda sua vida para trás, e então é conduzido para a morte por homens malvados que como vimos antes, cantam, dão gargalhadas enquanto empurram o gado para a morte, e não possuem nenhum tipo de sentimento com estes animais que estão prestes a morrer.

O gado coitado, nasceu foi marcado  

Aí vai condenado direto a charqueada  

Mas manda a poeira no rumo de Deus  

Berrando pra ele dizendo pra Deus:  

Deus, Deus, Deus, Deus, Deus, você fez  

Os homens de preto, empurrando a boiada  

Vêm rindo, cantando, dando gargalhada

 

Deus, Deus, Deus, Deus, Deus, você fez.

 

E então o autor conclui a obra dizendo que apesar do gado estar condenado a morte, os mesmos animais, dizem a Deus, que foi Ele quem fez tudo isso. Talvez tentando justificar a matança colocando a culpa em Deus, ou então a frase pode ser interpretada em tom de pergunta, algo como “Deus, porque fizeste isto?”.

Creio eu que a interpretação desta frase deva partir de cada ouvinte desta bela canção que remete aos trabalhos dos gaúchos da primeira metade do século passado.

 

 

João Dalbosco. 23 anos, estudante de história, músico e amante da literatura.



Todas imagens
  • Autor: João Dalbosco
  • Imagens: Internet

Todo o conteúdo desta coluna é de total responsabilidade de seu autor(a)/publicador(a)!