Viaduto do estrangeiro
Vivi toda a minha infância e adolescência em Viadutos, andei por inúmeros lugares, fui a quase todas as comunidades do interior, presenciei uma cidade vibrante no futebol e no futsal, me alegrei com títulos e com belas histórias, conheci caminhando pelas ruas o que é uma disputa política e suas consequências, vivi o dia a dia dos clubes da cidade, das conversas nos bancos e bares, da convivência com amigos sinceros, da espera de uma grande empresa, da organização de adolescentes (falange), fui a muitas festas e como acontece com muitos, fui feliz sem a consciência da felicidade.
O acaso esse autor com pouca criatividade, fez que meus caminhos se distanciassem do ponto primordial que nasci, esse desgarrado se deu inicialmente pelos estudos, e depois pelas oportunidades que este amigo secreto me trouxe, ou seja, acabei criando raízes no outro lado do rio Uruguai, habito na bela e pulsante Pinhalzinho SC, lá trabalho, tenho família e filho, e tento viver a minha Viadutos em meio a dinâmica catarinense.
Mas parece que toda essa descrição pessoal carrega mais do que lembranças, a também uma aproximação. Vamos a ela: Pontes e viadutos são elementos de ligação entre duas margens, ou seja, produzem uma travessia, uma transição. No entanto, há diferenças significativas entre esses dois tipos de estruturas, a principal é que pontes são estruturas que atravessam obstáculos horizontais, como rios, lagos ou qualquer corpo de água, e um viaduto é uma estrutura elevada projetada para cruzar vias de tráfego, como rodovias ou ferrovias. Geralmente construído em níveis superiores, como estradas secundárias, ferrovias ou outros viadutos, mantendo a fluidez do movimento e evitando interrupções. Esses viadutos podem variar em comprimento, mas sempre estão elevados em relação às vias que atravessam.
A nossa cidade, tem esse nome que mais parece um conceito urbanístico ou proveniente da engenharia, pois como quase todos sabem, foi um nome atribuído pelos ferroviários devido a presença de vários viadutos (pontes elevadas) necessários para superar a declividade e os vales da região. Esses viadutos representam fisicamente a aplicação da técnica para suprir a necessidade de ligação.
Esse dilema, obviamente com as proporções devidas, é que este forasteiro nativo vive hoje, isto é, de um lado sou de Viadutos, gosto daqui, tenho família, amigos e lembranças, mas vivo em outro pago, com outras pessoas e histórias, como aproximar esses dois extremos.
A saída deste labirinto foi me dada pelo diretor administrativo da Rádio Comunidade de Viadutos, Edison Demarco, escrever colunas, que abruptamente chamarei de: Viaduto do estrangeiro.
Nesse espaço usarei, como muitos já perceberam, filosofia, lembranças e percepções, estas provenientes de um certo tipo de estrangeirismo na sua própria pátria, ou melhor, uma sensibilidade a contrapelo, instrumento para forjar caminhos nos dormentes que ainda vivem nas esquinas na nossa cidade e que ressoam em todos que já viveram por essas bandas.
Ricardo Nichetti - Professor e colunista estrangeiro
- Autor: Professor Ricardo Nichetti
- Imagens: Divulgação